quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Espiritismo: uma questão de utilidade pública




Rita Garcia Côre
Não deixemos o Espiritismo debaixo do velador da acomodação, mas 

divulguemo-lo em sua inteireza e o mundo agradecerá
 
Que ousadia de título, pensará o leitor! Exagero? Será uma brincadeira? Afirmo que não. São tempos de descrença. No caso da cultura ocidental, caem por terra as ilusões dos dogmas, dos mitos e ritos das religiões do cristianismo romanizado. Uma visita à rede social na internet nos mostrará charges irreverentes sobre Deus, religiões, Jesus. Há comunidades de ateus, brinca-se com satanismo, bruxaria e sortilégios. 

Sabe-se também do grande interesse por filmes de terror que tratam da “vida após a morte” – com fantasias arrepiantes, ou por outros sucessos do cinema, que investigam o mesmo tema, acompanhado de abordagens sobre reencarnação e fenômenos mediúnicos. E se, de um lado, vemos um neoateísmo um tanto anárquico e provocativo, sem argumentações sólidas; de outro, há uma profusão de modismos mágico-esotéricos, com retomada de velhas profecias de caráter escatológico: final dos tempos, era de aquário, um caldeirão caótico, fervente de dúvidas e contraditória indiferença pela vida. No fundo, uma máscara para o medo, a insegurança, a perda do chão.

Durante séculos, os chamados valores morais eram ditados de cima para baixo por instituições representativas da figura de Deus na Terra. Mas, porque não tem cabimento um conceito de Deus tal como determinaram as chamadas religiões tradicionais, consequentemente, “eis que O mataram”. Ou melhor, esvaneceu-se, pois nunca existiu. 
 
É bom explicar que estamos nos referindo – como os “sem deus” – a filósofos do final do século XVIII até os nossos dias e a uma boa parte da humanidade. Não incluímos aqui os religiosos que, firmes na sua fé, cultivam a espiritualidade como uma instância indispensável de sua vida e pautam seu comportamento moral pelas chamadas leis divinas. A eles o nosso respeito. 
 
Mas, e os outros? Como levá-los à consciência de Deus? Aqui entramos com o nosso programa de “utilidade pública”. O conceito espírita de Deus é filosófico, lógico. A Doutrina Espírita tem a humildade de reconhecer que não compreendemos Deus, pois não temos o “sentido” para isso. Mas que podemos comprovar a sua existência, pelos seus efeitos. Nesse caso, observamos que a vida é inteligente. Hoje mais do que nunca sabemos disso: DNA, célula tronco, os elementos do universo que estão na constituição da própria Terra e de nossos corpos e daí por diante. Ora, se a Vida é inteligente é porque tem uma Causa Inteligente.  

O que mantém a ordem cósmica, a ordem da vida e que hoje está na moda chamar de Todo Universal, chama-se Deus 

Essa Causa – que desconhecemos, mas percebemos e intuímos, porque somos seres transcendentes (basta ter um mínimo de sensibilidade para reconhecer essa realidade) – é o que se chama de Deus. A palavra, na sua origem remota significa luz. Só para fazer um jogo verbal, ilustramos: Deus – Dio (italiano) – dia (hora em que brilha a luz do sol). Enfim, O que mantém a ordem cósmica, a ordem da vida e que hoje está na moda chamar de Todo Universal, O QUE move tudo se chama Deus. Está na mais distante galáxia, na poeira das estrelas, em você, mesmo que não queira. Não há necessidade de crer nele. Enfim Deus não é UM SER. Quando a Ciência procura a causa da vida, da origem do universo, procura Deus com outro nome. E, quando afirma que Deus não existe, tem toda razão, pois o “deus” tal como as religiões o apresentam é uma imagem feita à semelhança do homem, de acordo com a cultura em que se insere e já teve tantas faces que realmente não passa de uma concepção mitológica. 

A humildade diante da Inteligência da Vida, o reconhecimento dessa magnífica orquestração, que o homem não consegue ainda entender, a Doutrina Espírita tem. Mas é também o que vemos, por exemplo, em Stephen Hawking. Numa apresentação do Discovery Channel, o cientista inglês, após se afirmar agnóstico, afirma que vale a pena viver só para admirar a grandeza misteriosa do universo e pesquisá-lo incessantemente. O momento final do programa, com a imagem dos astros ao fundo e o homem fisicamente limitado por uma enfermidade progressiva que lhe tirou os movimentos e a voz, foi um verdadeiro encontro com Deus. Sim, divino ateísmo o do cientista. Pleno de Deus, talvez tenha consciência de sua concretude mais do que muitos religiosos. Meu caro Hawking, o deus em que você não acredita de fato não existe. Resistir à doença, insistir na pesquisa científica, colocar a inteligência a serviço da humanidade é a sua Luz, o seu Big-Bang ininterrupto, é o seu DIA. É a Inteligência Suprema a se espelhar na sua divina humanidade. 
 
Vemos que o conceito espírita de Deus não conflita com a Ciência, não estabelece regras estreitas. 

Tudo caminha e tudo evolui, a Terra é uma nave que nos abriga a passear no infinito, a seguir o Sol 

Conhecemos da Causa Primária da vida algumas de suas Leis que vão se desvelando à medida que progredimos em conhecimento e moralidade. Estar em harmonia com essas leis, na verdade naturais e compatíveis com a ordem cósmica, é um impositivo da natureza e não um postulado religioso. Portanto, ser bom, fazer o bem, não tem nada a ver com o que determinada Igreja prega, com o que papai e mamãe querem que se faça, com o que a sociedade manda ou não manda, mas com o bem-estar integral do indivíduo como parte do universo. Admirado? Você acha que o universo começa depois das nuvens? Ou depois da Terra ou da Lua? Pois trate de entender que seus pés no chão o colocam de cabeça para o infinito. Entendeu a gravidade da situação? Em duplo sentido. O que importa é que você também faz parte do universo. Então se entenda com ele e suas leis imutáveis enquanto está a caminho. 
 
Aqui entra mais uma vez o Espiritismo. Tudo caminha e tudo evolui, a Terra é uma nave que nos abriga a passear no infinito, a seguir o Sol que vai se conduzindo na ordem da Via Láctea, que segue. Diria Drummond: José, para onde? Ah, interessante! De repente aparece um bando de alvoroçados com o calendário maia e o alinhamento dos astros na nossa galáxia! Que frisson! Acredita-se na evolução do universo, no fim do mundo – então se foge para determinado lugar à espera de alienígenas –; estuda-se a Teoria de Darwin, concorda-se que “nos transformamos” enquanto matéria em tempos idos, para sermos agora bem diferentes do que éramos nas cavernas – mas é tão difícil acreditar no Espírito! Ora, onde está a inteligência? Se o ser pensante se circunscreve no cérebro por que cérebros idênticos em sua estrutura e formação não possuem o mesmo potencial? Complexo! O cérebro ainda não foi devidamente compreendido, certo. Mas já se admitem outros estados da matéria além dos tradicionais sólido, líquido e gasoso. Ops! Será que existe “algo incorpóreo” que poderíamos chamar de Espírito e que age sobre o cérebro? Se existe, é sempre “novinho em folha”? Ou “novinho em energia cósmica’? Puxa, que rasteira da evolução! O corpo que temos é formado de uma matéria que veio evoluindo há milhões de anos até termos essa pele, esse andar, esse jeito tão legal... O corpo aprendeu a piscar os olhos, a mastigar, os dentes ficaram mais bonitos, patas viraram mãos e continua a matéria a evoluir! 
 
E se formos dois? Espírito e corpo? O corpo morre e você continua. Ai, que susto! Para onde vai o Espírito? 

Dizem que alguns bebês já nascem com dente, as mãozinhas das crianças são danadinhas nos celulares, supõe-se até que já vão nascer carregando um tablet ou smartphone. E o Espírito? Não aprendeu nada? Conversa pra boi dormir. Se há Espírito e Matéria, ambos estão sujeitos à Lei de Evolução. Pronto. Eis a reencarnação. Matéria para outro artigo, e  este já está bem grande. Mas vamos lá. Isso é Lei Natural. Não é questão de crença. O assunto é pesquisado por estudiosos que não possuem nenhum credo. Tudo bem. Mas vamos adiante. Se há Espírito, enfim, algo mais que a matéria densa que “vemos e tocamos”, mas que é tão concreto quanto ela, ao se decompor o corpo na morte física o Espírito também se decompõe? Bem, alguns dizem: “a ciência não provou se existe vida após a morte”. Mas provou o contrário? Como pode fazer isso? Coitado do Galileu! No seu tempo a “ciência” ainda não tinha “provas” de sua teoria e cálculos! E agora? Pois é, um olhar sobre a história da humanidade e suas maravilhosas descobertas não faz mal a ninguém. Pelo menos nos ensina que o futuro pode nos reservar grandes surpresas! E a morte? Pode nos reservar surpresas? Eis a questão. Era esse mesmo o dilema de Hamlet. Como se diz, “um homem prevenido vale por dois”. E aqui o dito popular cabe muito bem. E se formos dois? Espírito e corpo? O corpo morre e você continua. Ai, que susto! Para onde vai o Espírito? Só existe vida após a morte para quem segue determinada religião? 
 
Bem, acredito que o leitor tenha mais de dois neurônios. Se o Espírito sobrevive, essa é uma Lei da Natureza, é universal. Bom, para onde vamos? Pensemos por analogia. Comparemos nossa caminhada evolutiva com o cotidiano. Pensemos no corpo. Você bebe demais, come demais, dirige alcoolizado. Acha que seu corpo vai 

“se dar bem”? Você está em harmonia com as leis naturais ou seus excessos o levam a se sentir mal, a se desequilibrar e adoecer? Cara, você está quebrado. Você é mal-humorado, rancoroso, agressivo, motoqueiro maluco beleza, trai, se apossa do que não é seu, se droga e por aí vai de excesso em excesso, abusa do sexo, humilha os outros, não segue normas, não tem limites. Cara, você está um bagaço. Hora de raciocinar: se você é um Espírito, o Espírito é que pensa e faz tudo isso que foi relacionado na sua “ficha”. O corpo é instrumento. Tal vida, tal morte. Cara, se você morre, em Espírito você está “arrebentado”. E já não tem a “proteção” do corpo.  
Espiritismo mais do que nunca há de ser Espiritismo. Não basta, em nossas palestras, pregar somente princípios morais 

Digamos que a passagem da morte seja para uma dimensão, uma faixa vibratória, diferente da que habitamos e compatível com seu novo estado de “fio desencapado”. Isso, você estará mais exposto às dores, às consequências dos seus atos. Castigo? Não. Lei de causa e efeito. Tudo natural, como regem as leis universais. Então, você irá passar por regiões de turbulências, tormentos conscienciais e encontrar Espíritos nas mesmas condições que você! Viu? Não vale a pena abusar! Mas... o socorro pode aparecer. Há sempre Bons Espíritos em todo lugar. A ajuda pode chegar, mas cada um há de dar conta de si. 

No reverso da medalha, digamos em outra encarnação, você já aprendeu um pouquinho. Então, levará a vida sem rebeldias insensatas, de forma equilibrada, saudável, procurando ser bom, cuidando da saúde, fazendo o bem, enfim se esforçando para ser bom o mais que puder, aprimorando-se moralmente. O corpo fica. O Espírito vai. Que lindo! Depois de uma leve perturbação, como se fosse uma sonolência, você irá encontrar pessoas (sim, Espíritos são pessoas) como você, com tendência ao bem. Não é melhor assim? Mas não há necessidade de esperar a outra encarnação. Comece agora. 

Logo, ser bom não é uma questão de agradar a A ou B, é um caso de inteligência! Trata-se de uma Lei Natural da qual não podemos fugir. Ora, como estamos vivendo momentos de irreverência com religiões, com Deus, com Jesus, a explicação lógica do Espiritismo é um instrumento de valor inestimável para ajudar a colocar ordem no caos. Para os desiludidos com as instituições tão desgastadas pelos erros acumulados em séculos de desvios dos verdadeiros ensinamentos do Mestre de Nazaré, o Espiritismo, tirando-Lhe as vestes do mito, das lendas que O encobrem, reapresenta-nos Sua doutrina, como uma bússola em mar tempestuoso, colocada no barco seguro da Fé Raciocinada, à luz da Reencarnação. Portanto, Espiritismo mais do que nunca há de ser Espiritismo. Não basta, em nossas palestras e nos estudos das Casas Espíritas, pregarmos princípios morais, simplesmente. Se isso fosse suficiente, não haveria necessidade de ter vindo o Consolador. Não há por que abrir mão das bases doutrinárias a pretexto de estabelecer simpatias com credos tradicionais. Respeitá-los, sim e sempre. Mas, sem agredir, levar o Espiritismo como luz na escuridão das incertezas e cansaços de uma humanidade cheia de enganos. Esclarecer consciências, explicar o porquê da vida e do bem é questão, no momento, até de utilidade pública! Não deixe o Espiritismo debaixo do velador da acomodação. Divulgue-o em sua inteireza; o mundo agradece.

                                                


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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A Parceira Perfeita

Um discípulo e seu guru estavam sentados à sombra de uma figueira. O mestre perguntou ao discípulo : 

- Que coisa o perturba, meu filho? 

- Ainda bem que perguntas, ó mestre. Sinto que é chegado o momento de eu partir à procura de minha alma gêmea, aquela que haverá de ser minha parceira perfeita, a mais linda mulher do Universo.

O mestre disse:

- Assim seja, meu filho, mas lembra-te: quando tua busca terminar, volta aqui com ela. 

- Sem dúvida, mestre. Decerto será assim.
Muitos anos depois, o discípulo regressou, sozinho e desanimado, ao encontro do guru. Quando se encontraram, o mestre o acolheu calorosamente e perguntou-lhe sobre a sua busca: 

- Encontraste aquela que procuravas? 

- Sim, querido mestre, encontrei. Encontrei aquela com quem sonhava. Era na verdade uma perfeição de sonho, era a mulher perfeita... 

- Bem, filho, onde está ela?
- Ah, mestre, que tristeza! Ela estava à procura do homem perfeito!!! 

Às vezes, perdemos a oportunidade de ser feliz por buscarmos a perfeição no outro sem sermos perfeitos.

Ainda estamos distante da perfeição, por isso, aqueles que procuram a pessoa amada, não busquem nela a perfeição e sim amor, respeito, sinceridade, fidelidade e caráter... estas qualidades já estão intrínsecas na alma que já busca seu próprio aperfeiçoamento e que ao lado de quem se ama tem a missão de ambos tornarem-se "perfeitos" sabendo respeitar e compreender as limitações de cada um, porém, crescendo e ajudando o outro a crescer!


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Publicado no Portal da Família em 22/02/2012
 
Divulgue este artigo para outras famílias e amigos.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

“Trabalhar com a criança é planejar o futuro, trabalhar com o idoso é viver cada dia”

 
Marlene Saes:

A trabalhadora e médium paulista, autora do romance Insensatos Corações, fala sobre seu trabalho no movimento espírita
 
Marlene Saes (foto) é fundadora e dirigente do Centro Espírita A Caminho da Luz, situado na cidade de São Paulo, o qual mantém gigantesco trabalho social e de divulgação da Doutrina Espírita. Médium psicógrafa, é autora do romance Insensatos Corações. Esposa, mãe, avó e servidora de Jesus, Marlene gentilmente compartilhou conosco suas reflexões acerca da vida e do trabalho desenvolvido pelo Centro Espírita A Caminho da Luz na entrevista que segue abaixo. 

Por gentileza, explique-nos: quem é Marlene Saes?
 
Sou fundadora e dirigente do Centro Espírita A Caminho da Luz há 36 anos e presidente do Conselho de Administração do Centro de Assistência e Promoção Social Nosso Lar, braço social do A Caminho da Luz, do qual fazem parte 25 Unidades Sociais, sendo 15 creches, 6 abrigos para crianças e adolescentes, 1 lar de idosos, 1 escola profissionalizante, 1 núcleo socioeducativo para crianças e jovens, 1 centro de convivência para idosos. Nessas Unidades são atendidas cerca de 4.000 pessoas diariamente. Há cinco anos atuamos na área da divulgação através do Programa A Caminho da Luz, que vai ao ar todas as quartas-feiras, às 13 horas, pela Rádio Boa Nova AM 14.50, juntamente com os companheiros Carlinhos e Suraia. Na vida familiar, como mãe de 4 filhos e avó de 4 netos, renovo minhas forças para a realização dessas tarefas, que me dão imensa felicidade.  

Imaginamos que a rotina da senhora é bem agitada. Como faz para conciliar as atividades doutrinárias com as familiares? 

Realmente minha vida tem um ritmo intenso. Mas, nós nos acostumamos com tudo, desde que façamos as coisas com amor. Tudo segue um planejamento e a agenda precisa funcionar com precisão. A família já está acostumada. Meus filhos cresceram dentro deste ritmo, e todos colaboram. Meu marido, que também faz parte da diretoria do A Caminho da Luz, conviveu nestes 36 anos de existência de nossa Casa de Oração com este modo de vida. Quando os filhos eram pequenos, minha vida era uma verdadeira maratona, levando-os para a escola, para natação, para aulas de inglês, médicos etc., enfim tudo o que uma mãe faz normalmente. E ainda precisava sobrar tempo para os compromissos no Centro e também com a Obra Social Nosso Lar, que para mim sempre tiveram uma enorme importância. Quando direcionamos nossa vida para projetos como esses, a espiritualidade nos dá forças, saúde e coragem, e tudo se ajeita. 
  
Descreva-nos, por gentileza, suas atividades no movimento espírita e no Centro Espírita A Caminho da Luz. 

No CE A Caminho da Luz, estamos como presidente da Casa, respondendo pela vida material do Centro e pela organização das atividades espirituais. Temos uma Diretoria dinâmica e comprometida que nos dá serenidade para desempenhar esta tarefa. Nossas atividades espirituais no momento são: orientação espiritual a trabalhadores e alunos (terças-feiras): atendimento ao público (orientação espiritual) às quartas-feiras; palestras nas reuniões públicas; médium psicógrafa nas reuniões de psicografia mensal (primeiro domingo e primeira quarta-feira de cada mês); aulas esporádicas nos cursos de desenvolvimento mediúnico. Com relação às nossas atividades dentro do Movimento Espírita, temos feito palestras em outras Casas Espíritas, participado de alguns Programas Radiofônicos na linha espiritualista, do Programa Consciência Espírita (TV Mundo Maior), Programa Para Viver Bem (TV Comunitária) e escrevemos artigos para o Jornal Folhas do Caminho. 

Os programas radiofônicos de que a senhora participa podem ser acessados pela internet?  

Nosso programa semanal pode ser ouvido, sim, pela internet, acessando o site www.radioboanova.com.br, em que o ouvinte, ao acessar a programação, basta clicar no Programa A Caminho da Luz (quartas-feiras, 13 horas). Poderá ouvir também os programas antigos, pois eles ficam gravados durante um certo tempo. 

Sabemos que o mentor do Centro Espírita A Caminho da Luz é o Espírito Luizinho. Pode nos falar um pouco sobre ele? 

Luizinho desencarnou aos 7 anos e 8 meses, no dia 20 de janeiro de 1972. Espírito que cumpriu uma curta existência, na qual completou encarnação remota, que foi interrompida por ele no século 15. Como ele mesmo informou, trouxe como tarefa reunir um grupo de pessoas que precisariam cumprir seus compromissos mediúnicos e de caridade. Tivemos a honra de conviver com esse Espírito de escol, na qualidade de tia, sentindo desde o primeiro momento a grandeza daquele ser especial que, pouco tempo após seu desencarne, começou a nos orientar quanto ao trabalho que deveríamos iniciar. Como dirigente espiritual do A Caminho da Luz, trouxe-nos todo o planejamento das tarefas que deveriam compor o trabalho de divulgação doutrinária e evangélica, da formação de médiuns através dos cursos, do apoio aos necessitados através das assistências espirituais, dos atendimentos de curas, psicografia, atendimentos específicos aos problemas emocionais em suas variadas formas. Enfim, Luizinho é nosso Orientador, nosso irmão maior, que incansavelmente conduz toda a família A Caminho da Luz em suas atividades espirituais.

Sabemos que a questão financeira é essencial para que iniciativas desse porte perdurem por tantos anos beneficiando inúmeras pessoas. Como o Centro Espírita A Caminho da Luz lida com as questões financeiras? Há muitos colaboradores?

Desde o primeiro momento nossa Casa buscou inúmeras ações para a captação de recursos. Desde sua fundação o trabalho social fez parte de nossas atividades. Distribuíamos cestas básicas – isso há 36 anos – para famílias muito necessitadas. Os frequentadores colaboravam, e algumas voluntárias começaram a dar aulas de pintura e artesanato em couro, que naquela época estava começando a se tornar conhecido. Nós fazíamos curso para aprender e ao mesmo tempo ensinávamos no Centro para angariar recursos. Era um imenso desafio! As trabalhadoras, que eram poucas, organizavam jantares, almoços e chás beneficentes para conseguirmos pagar o aluguel do imóvel e realizar o trabalho social. Com o passar do tempo, a frequência começou a aumentar, a casa tornou-se muito pequena e decidimos adquirir um imóvel maior e sair do aluguel. Assim, o A Caminho da Luz foi para sua primeira sede própria, na Rua Managé, onde hoje existe a Creche 1. Foi uma longa trajetória, sempre aceitando novos desafios, mas, graças a Deus, sempre conseguindo alcançar nossos objetivos da caridade espiritual e material. A questão financeira é uma realidade dentro do Centro Espírita, pois o lado material é de nossa responsabilidade. Temos um quadro de associados que contribuem com valores mensais (estipulados por cada contribuinte), os quais podem optar por boletos bancários ou contribuições direto na Secretaria do Centro, que lhes fornece o respectivo recibo de doação. Temos também o Clube do Livro, que é uma forma de captação de recursos. São realizados vários eventos ao longo do ano, sendo que o principal é o Arraiá Nosso Lar, festa junina já tradicional que acontece por 7 finais de semana. Temos também o Bazar permanente (no próprio Centro) em que voluntárias dedicadas promovem a venda dos artesanatos confeccionados por colaboradoras de nossa Casa de Oração. 

Vocês aceitam colaboração financeira? Em face do gigantesco trabalho, como alguém pode entrar em contato para obter mais informações e colaborar de alguma forma com as obras do Centro Espírita A Caminho da Luz? 

Aceitamos todo tipo de doação. Roupas, calçados, utilidades domésticas, novas e seminovas, que são direcionadas tanto às Obras Sociais como aos Bazares de Pechincha que existem em três locais (no Recanto do Idoso, Guarulhos; na Rua Jalisco e em Itaquera). A colaboração financeira nos ajuda a manter a própria sede do Centro Espírita que recebe semanalmente cerca de 6.500 pessoas, além de colaborar para a manutenção da Obra Social, que atende pouco mais de 4.000 pessoas diariamente. Doações podem ser feitas em nome do CENTRO ESPIRITA A CAMINHO DA LUZ, para a conta corrente 00196-3, agência 7370, Banco Itaú. Para doações diretamente para as Obras Sociais, o contato pode ser feito pelo telefone 2020-8888 (captação de recursos) ou para a Secretaria do Centro, pelo telefone (011) 2965-0317. 

A senhora comentou que o Recanto do Idoso Nosso Lar atende 100 idosos. O que a senhora extraiu da experiência em conviver com os idosos do Recanto? 

A experiência em conviver com irmãos nossos que praticamente colocam suas vidas em nossas mãos é imensamente gratificante. Surge um intenso amor entre todos que acabam formando uma enorme família. E como em toda família, as preocupações são enormes. O A Caminho da Luz direciona todos os seus recursos para manter o Recanto do Idoso Nosso Lar, pois ali as despesas são muito altas. Nossos abrigados, em sua grande maioria, são diabéticos e hipertensos, necessitando de uma quantidade enorme de remédios diariamente, além de alimentação balanceada. Temos a sala de fisioterapia que tem intensa atividade, pois são muito comuns os acidentes vasculares, deixando sequelas, além do envelhecimento natural que vai inibindo várias funções motoras. O trabalho com idosos emociona muito, pois as histórias de vida de cada um são muito marcantes. Eles se apegam a nós e nós a eles, e quando alguém desencarna vem aquela dor que normalmente atinge a todos que formam aquela nova família. Trabalhar com a criança é planejar o futuro, trabalhar com o idoso é viver cada dia. 

A senhora recentemente psicografou o livro Insensatos Corações. Fale-nos um pouco sobre ele. 

Já há alguns anos nosso mentor espiritual tem cobrado a realização do trabalho literário, especificamente com obras que possam trazer algum esclarecimento sobre as questões de nossa estadia na vida física e das dificuldades que fazem parte de nosso cotidiano. Diante das atividades do Centro Espírita e da obra social Nosso Lar, aliada à vida familiar, acabamos protelando esta tarefa. Mas, no final de 2010, por três meses, em dias e horários específicos, nos colocamos à disposição da espiritualidade para que este primeiro livro pudesse se tornar realidade. Insensatos Corações relata a trajetória de um grupo de Espíritos que, ligados há vários séculos, escreveu uma história de erros, crimes e vingança e obteve do Pai Celestial a oportunidade do resgate, buscando ressarcir seus débitos, buscando o perdão recíproco e a conquista da paz para cada coração. É importante frisar que os direitos autorais foram doados ao A Caminho da Luz, com a finalidade específica de ser encaminhado ao Recanto do Idoso Nosso Lar, onde oferecemos um lar de amor aos idosos que ali residem, que giram em torno de 100 pessoas.

Como ocorre o seu trabalho na psicografia?  

A psicografia é uma mediunidade altamente gratificante. O contato com o desencarnado, seja na recepção da cartinha de consolo, seja na recepção de mensagens doutrinárias, nos causa imensa emoção. Como médium semiconsciente, no momento em que sintonizamos com o Espírito comunicante, percebemos um acelerar das pulsações, e é nítido que fisicamente existem alterações. No campo emocional as sensações são visíveis, pois toda a emoção do Espírito comunicante é captada pelo médium. Nesse trabalho sinto uma felicidade indescritível, pois o carinho que nasce entre nós e os Espíritos que ali chegam é algo que transcende a tudo o que conhecemos. 

Qual é a sua visão sobre o movimento espírita brasileiro?
  
Na minha opinião o movimento espírita está bastante dinâmico em todo o Brasil. Penso que na capital paulista, como sendo a maior em todo o território nacional, poderia ser mais intenso, mais dinâmico. Vemos que no interior do Estado existe uma maior interação entre as associações, centros espíritas e outros movimentos de interesse social. Os eventos doutrinários acontecem de uma forma intensa, reunindo vários grupos. Talvez pela vida acelerada desta Capital, os grupos trabalhem de uma forma mais isolada, promovendo ações interessantes, mas que nem sempre encontram repercussão dentro do próprio segmento espírita. De qualquer maneira, o movimento espírita cresce a cada dia, isto é indiscutível.

Suas palavras finais. 

Agradeço imensamente a oportunidade de poder mostrar nosso trabalho, que é feito com muito amor e dedicação, em que, como aprendizes do Evangelho, somos convidados a cada dia a nos aprimorar na prática da caridade, buscando forças no Mestre Jesus para poder trilhar a senda divina, apesar de nossas imperfeições. Convido todos a visitar o site www.centroacaminhodaluz.com.br para conhecer um pouco mais sobre nossa Casa de Oração, e onde todas as segundas-feiras, às 19 horas, poderão acompanhar as palestras ao vivo. Para conhecer melhor as Obras Sociais que aqui mencionamos, visite o site www.capsnossolar.org.br e aqueles que desejarem fazer parte deste grupo de trabalho, ali poderão obter todas as informações e teremos muita alegria em recebê-los nesta jornada de trabalho. Aproveito a oportunidade para dizer a todos que, a cada dia em que servimos a Jesus, sentimos a suave brisa do amor envolvendo nossa alma. E isto é possível a todos que desejarem compartilhar das tarefas do bem. Façamos hoje todo o bem que pudermos e nossa vida terá sempre um objetivo grandioso e iluminado! Muita paz a todos!

Fonte: o texto está em inteiro teor 
O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita
 



 







domingo, 26 de fevereiro de 2012

Claro que é o amor “o que importa”!

Tomás Melendo
Uma pequena introdução de Marta Román: casamentos “de etiqueta” e casamentos de “Sim, aceito”:
Que mania as pessoas têm agora de pôr etiqueta nos casamentos e no que deles deriva, quer dizer, as famílias. Hoje em dia se reduzem a duas: “Tradicional” que soa como “aborrecimento” e “Moderna”, que soa como “muito bem”.
Neste artigo Tomás Melendo rompe este esquema e me dá outra visão, mais real e, sobretudo, mais profunda do que supõe dizer “Sim, aceito”, na vida de duas pessoas. Ele o expressa como um “ato único” que, dito “em cristão”, significa lançar-se à aventura, perder o medo ou algo assim.

O casamento é a ação concreta que marca um antes e um depois e o verdadeiro “sim, aceito” é o que capacita duas pessoas para fazer possível o impossível.

O verdadeiro casamento não tem etiqueta e é próprio das pessoas de hoje ou de antigamente, mas de pessoas ousadas, abertas a novas experiências e aventureiras: que arriscam, que desafiam olhares de hipocrisia diante da chegada de um novo filho e com sorriso franco dizem – e como dizem – “venha à sua casa”. Pessoas que se vestem tanto com roupa de marca, como Zara, ou como hippie. Pois tanto faz usar tranças quanto alisar o cabelo.

Porque é gente que, com seus variados estilos de vida, se move num plano invisível com uma ideia comum sobre o matrimônio: que a felicidade tem muito a ver com encontrar uma pessoa com quem dividir a aventura da vida.

É verdade que existem casamentos de etiqueta ou casamentos de “mero trâmite”, que tentam planificar um futuro no qual tudo está previsto e no qual o amor, se há, é o suficiente para justificar esta união. Mas, pensar nelas me parece muito aborrecido, tanto se foram celebradas há três séculos como no sábado passado.
Como sou má....
O amor, sim, é o que importa
Mais de uma vez ouvi explicar a grandeza do amor que se coloca em jogo no momento do casamento, fazendo ver que não se trata de um ato de amor como qualquer outro, mas de algo especialíssimo, realmente grandioso, porque traz consigo a ousadia de tornar obrigatório o amor futuro: se antes do casamento os noivos se amavam de forma radicalmente gratuita, sem compromisso algum, no preciso momento do “sim” se amam tanto, com tal loucura e intensidade, que são capazes de se comprometer a se amarem por toda a vida.

Sendo isso verdade, não o é menos algo que, com frequência, nem sequer se nomeia.... A saber: que o sim matrimonial é capaz de originar a obrigação prazerosa de se amarem para sempre, nas tristezas e nas alegrias, porque simultaneamente torna possível esta entrega incondicional.

E “isso” não é uma loucura? 

A reflexão sobre os excessivos fracassos matrimoniais que observamos na atualidade, e, mais ainda, a maior frequência com que rompem os laços aqueles que estavam unidos em convivência quase matrimonial, mas sem se casar, me levaram a reparar que a pretensão de se obrigar a amar por toda a vida outra pessoa, com total independência das circunstâncias pelas quais um e outro atravessem, se não for acompanhada de um robustecimento da recíproca capacidade de amar, resultaria, no fundo, numa soberana ingenuidade, quase uma demência.

Em parte para atrair a atenção dos que me escutam e, sobretudo porque acho que o exemplo é correto, ainda que atrevido, quero ilustrar este dever-capacitação com o mandamento máximo e maximamente novo que Jesus Cristo impôs a seus discípulos na Última Ceia.

E acrescento, com todo respeito possível e uma pitada de humor, que semelhante pretensão seria uma autêntica brincadeira se o Senhor, no momento de estabelecer o preceito, não incrementasse de maneira quase infinita a capacidade de amar do cristão, ou previsse os meios para fortificá-la e fazê-la crescer.
Como, se não assim, pedir a uns simples homens que amem aos outros como o mesmíssimo Deus os ama: “Como Eu vos amei”?

Pois algo parecido, não idêntico, acontece no momento do casamento, também o que se situa no âmbito natural. No mesmo momento em que pronunciam o sim de maneira livre e voluntária, os novos cônjuges não só se obrigam, mas, sobretudo se tornam mutuamentecapazes de se amar com um amor situado a uma distância quase infinita acima do que poderiam oferecer-se antes desta doação total. Pelo contrário, sem este sim que os “faz aptos”, a pretensão de obrigar-se se tornaria quase absurda.

O importante
Quando meus amigos ou alunos afirmam, com mais ou menos agressividade e “para me provocar”, que o importante para levar a bom termo um matrimônio é o amor, respondo-lhes sem titubear que sem nenhuma dúvida estou muito mais convencido que qualquer um deles.

(E mais, considero que por haver centrado a chave da vida conjugal no amor mútuo, deixando de lado outras razões menos fundamentais, é um dos ganhos ou conquistas teóricas mais relevantes dos últimos tempos com relação ao matrimônio).

Mas imediatamente acrescento que, para se poder amar com um amor autêntico e do calibre que exige a vida em comum para sempre, é absolutamente imprescindível ter-se habilitado para isso; e que semelhante capacitação é de todo impossível à margem da entrega radical que se realiza quando se casa.

Com outras palavras: o importante, do ponto de vista antropológico, não é nem “os papéis” nem “a benção do padre”.

(Pessoalmente, considero uma inaceitável usurpação e, por isso nego categoricamente que me case algum funcionário do Estado, nem sacerdote algum; caso-me eu – e minha mulher – e justo e só porque eu quero e ela quer; nenhuma outra pessoa está capacitada para fazê-lo por mim; só o livre consentimento dos cônjuges realiza esta união, com todos os efeitos antropológicos que leva junto).

Entretanto, para que o importante – o amor – seja efetivamente viável torna-se de necessária a ação de livre entrega pela qual os cônjuges se dão um ao outro exclusivamente e para sempre.

Estamos, digo especialmente para os conhecedores da filosofia, embora todos possam entender, diante de um caso muito particular do nascimento de um hábito bom ou virtude: que para ser mais claro, é justamente a virtude da “castidade conjugal”, tão denegrida.

Virtude... que aborrecimento!
Não quero insistir em que o hábito e a virtude têm muito menos relação com a repetição de atos, que normalmente conduz à rotina ou até à mania, que com a potencialização ou habilitação da faculdade ou faculdades que revigoram.
Quer dizer, o hábito e a virtude, com independência absoluta de sua origem, nostornam melhores e, de forma muito direta, nos permitem agir num nível muito mais alto do que antes de possuí-los.

A questão fica muito fácil de notar nas habilidades de tipo intelectual, técnico ou artístico, chamadas em filosofia hábitos dianoéticos: só quem aprendeu durante anos a esboçar, projetar edifícios e jardins ou a interpretar corretamente ao piano (e o resultado destes aprendizados são diferentes hábitos ou capacitações de um conjunto de faculdades) écapaz de realizar estas atividades de forma correta e adequada com facilidade e prazer, e sem perigo próximo de se enganar... a não ser que tenha vontade de fazê-lo mal (coisa não muito frequente).

O mesmo acontece com as virtudes em sentido mais estrito, que são as de ordem ética. Quem adquiriu a virtude da generosidade, por exemplo, não só se desprende facilmente daquilo – o tempo em primeiro lugar! – que pode fazer mais feliz o outro, como se sente inclinado a realizar esse tipo de ações e desfruta ao realizá-las.

Daí se conclui que a vida eticamente bem vivida não é uma espécie de corrida de obstáculos tediosa e sem rumo, um “mais difícil ainda” carente de fim, mas que, precisamente por causa das virtudes, compõe um caminho de desfrute progressivo, onde, inclusive a dor e o sacrifício se tornam prazerosos.

A gênese das virtudes
Uma das diferenças assinaladas tradicionalmente entre hábitos dianoéticos (técnicas, artes, etc.) e éticos, é que alguns daqueles podem ser conseguidos com um só ato – aí se enquadra, por exemplo, a tão clara como difícil de comprovar aquisição do “uso da razão” -, enquanto que as virtudes propriamente ditas requerem uma repetição de atos realizados cada vez com maior amor.

Proponho uma leve correção nesta doutrina. Por um lado, porque a experiência demonstra que, em certas ocasiões, uma pessoa adquire o valor ou perde o medo, como resultado de uma única ação mais ou menos arriscada: por exemplo, lançar-se na piscina depois de meses de hesitação, ou saltar de paraquedas pela primeira vez...e experimentar a emoção que faz voltar a saltar, mas agora, sem medo.

E me parece que o ato único da entrega matrimonial consciente e decidida tem um efeito muito parecido: dá aos que se casam o vigor e a capacidade para se amarem por toda uma vida a uma altura e uma qualidade que se tornam impossíveis sem esta doação absoluta.

Coisa não difícil de entender se recordarmos que o fim de toda a vida humana é o amor entregue, e que a oferta que se realiza no matrimônio (igual à oferta que se faz a Deus de forma definitiva), por encarnar, de maneira privilegiada esta tendência ao amor, não pode senão fortalecer a capacidade de amar, até o ponto de situá-la a uma distância quase infinita daquela que os namorados tinham antes do casamento.

Não se trata de uma questão psicológica, como alguns me comentaram ou me perguntaram, ainda que também possa se refletir nestes domínios, mas de algo infinitamente mais sério. Estamos diante de uma mudança abismal, comparável, por exemplo, ao que em filosofia denominamos o primum cognitum, ou à chegada do “uso da razão”: aquele hábito que permite – num momento difícil de precisar, mas sem dúvida existente –, conhecer a realidade tal e qual ela é, com independência de seus benefícios ou desvantagens para mim, não como os animais e as crianças de muito pouca idade, no que cada um supõe para sua própria satisfação ou mal-estar.

Deste modo, pode-se falar igualmente de um hábito primeiro nos domínios do conhecimento, que leva a conhecer de um modo radicalmente superior ao que tem antes de sua formação (é o que eu chamo de primum cognitum entitatis). É legítimo referir-se a um hábito muito concreto da vontade – que poderia ser denominado, se não fosse de mau gosto, habitus sponsalis amoris –, que faz possível amar de um modo inédito e muito enobrecido conjugalmente.

Até o extremo de se afirmar que a pessoa que o gera – justo no instante e como produto da entrega sem reservas – é capaz, em geral, de fixar definitivamente o objeto dos seus amores naquele (ou nAquele) a quem se entregou e, no caso do matrimônio, de transformar o corpo sexuado em veículo eficaz da entrega da própria pessoa... algo impossível antes de se casar.

Habilitar-se... mais ou menos
Explico-me com um pouco mais de detalhes. Às vezes entendemos a responsabilidade como a conta que havemos de pagar pelo que fizemos mal; ou do prêmio que receberemos pelo bem que há em nossa vida (e que nós nos encarregamos de deixar muito claro).

De novo é uma visão correta, mas muito pobre. Diante de qualquer ação que realizamos, nossa pessoa responde de imediato, melhorando ou piorando, fazendo-nos mais capazes de agir de novo, melhor e com mais facilidade, no mesmo sentido, bom ou mau: quem se acostuma a roubar vai se tornando um ladrão; o que mente, um mentiroso; o que dirige grandes empresas para o bem dos outros, uma pessoa magnânima; quem treina sete horas no ginásio – se não morrer na tentativa – um autêntico “musculoso”, etc.

Esta resposta que nos marca, queiramos ou não, é a verdadeira responsabilidade: o modo como nosso ser responde e se modifica em função das nossas ações.
Coloquemo-nos na suposição de ações boas. Cada uma delas nos melhora e nos faz mais capazes de realizar facilmente, com gosto e sem nos enganarmos, o mesmo tipo de ações. Mas nem todas nos capacitam com a mesma intensidade.

Quem empresta suas anotações de estudo a um colega, se torna um pouco mais generoso; quem dedica toda uma tarde a explicar o que o outro não entende, é mais generoso ainda; quem, sem que se note, está constantemente atento – ainda que lhe custe sangue – a que seus amigos façam o que devem, com graça e sem que o percebam, é um sujeito grande, um mestre em generosidade e em muitas outras virtudes.

Um esclarecimento importante
Mas todos estes exemplos enquadrariam melhor com o incremento paulatino da capacidade de amar que, quando queremos bem, vamos gerando em nós.

Há outros casos que se situam mais perto do que estamos considerando, ainda sabendo que um exemplo é só isso: algo que, se está bem escolhido, ajuda a entender a realidade que pretendemos ilustrar, mas que não se identifica com ela.

Refiro-me, para resumir, e do lado negativo, a que quem não se decide a se atirar de um trampolim, vencendo com isto o medo que inicialmente o domina, nunca estará em condições de saltar de novo, com prazer e livremente, melhorando progressivamente a técnica e o estilo.

Ou, positivamente e apurando um pouco mais a analogia, a firme decisão que leva, depois de um tempo de aprendizagem, a se atirar de paraquedas, pela primeira vez em queda livre, de um avião, graças a um ato de valor que vence o medo conatural a realizar este salto; ou, numa linha muito distante, a dar o passo definitivo para entrar e exercer uma profissão de alto risco em benefício dos outros (penso, entre outros, nos bombeiros ou nas equipes de salvamento), fazendo pouco caso do temor que suscita pôr a própria vida em perigo, com relativa frequência.

Nestas circunstâncias e em outras semelhantes, este notável ato de virtude, ao multiplicar o vigor das faculdades respectivas, coloca quem o realiza num nível superior ao que estava antes de fazê-lo e o autoriza a ir se superando no exercício cada vez mais perfeito das atividades que antes não eram possíveis e que agora, sim, já são.

A grande aventura 

E, quase no fim desta linha ascendente, situa-se o sim do casamento.
Como foi mostrado, homem e mulher são seres “para o amor”; e a maior expressão de todo amor é a entrega. Quando esta entrega é sincera, profunda, total e por toda a vida – coisa que se manifesta num só ato, o sim do casamento –, como não responderá nossa pessoa incrementando de uma forma impensável sua capacidade de querer?

Aí se encontra a razão antropológica mais profunda da necessidade de casar-se! O motivo mais entusiasmante para dizer um sim que nos permite iniciar a grande aventura do matrimônio: o caminho que nos levará até nossa plenitude pessoal e nossa felicidade.

Isto soa demasiado utópico? Que pena! Porque então não se compreende o que é uma aventura. O próprio dela é que: Aqueles que a empreendem coloquem para si uma meta alta, aparentemente inalcançável, mas que vale a pena.

Não tenham nenhuma segurança de que vão alcançar seu objetivo; do contrário, onde está a graça da aventura?
Uma vez que a iniciaram, não permitam que as dificuldades e os contratempos, também os imprevistos, sufoquem a ilusão inicial, nem os impeçam de se regozijar com o que conseguirem.

O olhar fixo no fim, no triunfo, faz com que, a cada passo, renovem-se as energias e a coragem para seguir adiante.
Se enfocamos deste modo o matrimônio, contando com as forças que nos proporciona o havermos casado, sim, será certamente um caminho de rosas, no qual a aparência e o perfume das flores fazem que quase não nos apercebamos das picadas dos espinhos (que mau gosto! , mas como minha mulher não leu...).

Não o será, entretanto, se por ignorância ou desleixo ou desprezo decidimos que o casamento é um mero trâmite e não nos capacitamos para querer com um amor relevante, venturado e venturoso; mais ainda, com este ato-omissão vamos, paulatinamente, nos fazendo incapazes de amar da forma correta. o contrário, se, mediante o matrimônio, conseguimos que o importante seja efetivamente o amor, não cabe a menor dúvida de que vale a pena casar-se!

Tomás Melendo Granados
Catedrático de Filosofia (Metafísica)
Diretor dos Estudos Universitários em ciência para a Família - Universidade de Málaga
email: tmelendo@uma.es

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Publicado no Portal da Família em 22/02/2012
Tradução para o Portal da Família: Sílvia Castro
 
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